Não ponho fé

– Ele vai cair na bagaceira…

– Certamente está vislumbrado com a cidade grande. Mas talvez sua mãe o controle, diz o rapaz.

A moça replica: – Não ponho fé.

O rapaz pensa um pouco e diz: – Nem eu. Minha fé é muito pouca pra eu depositar em qualquer coisa.

O diálogo toma outro rumo, mas no resto do dia, o rapaz não para de pensar na frase que, por impulso, disse sobre sua pouca fé, do cuidado que tinha e do medo em depositá-la sobre qualquer coisa.

Já tivera fé nos homens. Teve seus heróis. Sonhava que quando crescesse seria igual a eles e transformaria o mundo. Também quis ser bombeiro, soldado. O pessoal da igreja dizia que era um menino prodígio, que lia a Bíblia e superava em zelo e dedicação a todos da sua idade. Mas o tempo foi passando, como passam as andorinhas pelos verões, ele foi crescendo, seus heróis se acabando, seus castelos caindo, ruindo , fechando…

Também teve fé na instituição. Afinal, desde pequeno fora ensinado que era lá que Deus estava. Portou-se como um servo fiel e cada vez que vacilava e era disciplinado com base em costumes sem fundamento bíblico, aceitava de bom grado, afinal, era para o seu crescimento espiritual. Não entendia como alguém poderia viver sem aquilo. Como poderia? Ali estava a salvação, ali estava protegido do mundo, ali estava todo o universo que ele deveria conhecer. Mas o tempo, esse impiedoso ditador, passou novamente. Um dia, ele se vê sozinho, mesmo cercado de pessoas, odiando todo aquele ambiente de hipocrisia, falsidade e máscaras de felicidade. Ele mesmo percebe que está representando um papel e rapidamente tenta arrancar sua máscara. Como ela está pregada ao rosto, dói muito. Perdera a fé em tudo aquilo.

Mas tinha ainda fé num deus que tinha preparado cada cena no filme da sua vida. Afinal, já tinha orado pra passar no vestibular de engenharia e, se não passou, não era da vontade do seu deus. Tanta coisa já tinha dado errado, pelo fato dele ter ignorado a vontade desse deus, era castigo. Esse deus já tinha mandado seus profetas avisá-lo de algumas conquistas da sua vida que estavam prontas, bastava ele afirmar e tomar posse. Sabia que esse deus era soberano, onipotente e que nada aconteceria com ele sem que esse deus permitisse. Um dia, ele viu o sofrimento de perto, a injustiça, as tragédias, viu inocentes sendo mortos sem saber que tinham uma vida, tudo para glória desse deus. No mesmo instante perde a fé nele.

Por falar em fé, não sabia mais o que essa palavra significava. Vários conceitos formavam um turbilhão na sua cabeça e ele não sabia mais em quem acreditar e nem o que significava acreditar.

Numa tarde ele abriu um livro de um maltrapilho como ele e sente o abraço de um Deus que o ama, que divide com ele a construção da historia e que sofre ao ver que tipo de mundo o rapaz e as outras pessoas haviam construindo. Esse Deus que pode ser encontrado em qualquer em que o busquem em espirito e em verdade, além de todas as definições, que mostra seu rosto através pessoas, independente de quem sejam ou em qual instituição estejam ou não estejam, mesmo que nem creiam nele.

Esse Deus o ama incondicionalmente.

Sua fé renasce como uma forma de encarar a existência, uma esperança que no fim o Amor vencerá. Ainda é pequena – talvez do tamanho de um grão de mostarda – e pouca, quem sabe nunca moverá montanhas, mas já é suficiente para movê-lo pelo caminho da vida.

Que 2012 seja igual a 2011

 

Todo fim de ano é a mesma coisa. Muitas pessoas irrompem numa verdadeira onda de imprecações sobre o ano que finda, desabafos diversos, ameaças sobre o próximo ano determinam e ordenam que ele seja bom, que humilhe o ano passado, que se prepare para que seja abalado, declaram que será um ano de vitória, de sucessos, preparam novas metas, tudo irá mudar após o relógio passar das 23:59.

Como se uma força superior desse um comando dotando as pessoas de animo novo, de força para ir ao próximo ano e a-r-r-a-s-a-r. E elas ainda exigem que o próximo ano lhes seja fiel e não se oponha às suas futuras conquistas.

Deve ser a tal do confissão positiva, aquela onda do “declare que acontece”.

Será?

Eu gosto de pensar que se EU não me mover no sentido de fazer com que as mudanças aconteçam, serão inúteis todas as ameaças e ordens que eu der para o ano novo.

Mas é aquele antigo costume de tirar o foco da gente e achar um culpado pra o que acontecer de ruim, não é? Nesse caso, a culpa será de 2012 – o ano maldito.

Eu prefiro declarar para mim que eu saia do conformismo, que eu lute, que eu batalhe, que eu não desista. Que o significado dos dias, meses e do ano inteiro seja proporcionado pelas minhas ações, pelas minhas escolhas, porque, no final das contas, é assim que funciona.

Não quero negar que as contingencias da vida acontecerão, que tragédias, acidentes, coisas ruins acontecerão em 2012 independente do quanto eu trabalhe e deseje o contrário, mas isso é um fardo que só carrega que está vivo. O acaso e o tempo afetam a todos, já dizia o pregador.

Mas a culpa será do calendário? Que a gente nem sabe se corresponde realmente à contagem do tempo que foge?

Creio que não. Então, essas são as minhas determinações para o novo ano.

Que 2012 seja o mesmo que foi 2011, 2010, 2009…

Que EU seja diferente;

Que EU dê outros significados ao tempo, a cada momento que passa por mim;

Que EU mude a minha forma de reagir as contingencias da vida;

Que EU, finalmente, aceite a responsabilidade do que acontecer comigo nesse ano, sem culpar Deus, o diabo ou o calendário com os nomes dos deuses romanos.

Que Eu escreva mais nesse blog;

Que os Maias estejam errados (às vezes torço pra que estejam certos);

Que o novo ano seja um Ano Novo na vida de vocês.

🙂